O Senado realizou nesta sexta-feira (11) sessão especial semipresencial em comemoração à campanha de conscientização do mês do diabetes, o Novembro Diabetes Azul. O objetivo da campanha é ressaltar os esforços dos agentes envolvidos nas ações de conscientização, bem como destacar o grave impacto da doença no Brasil, seus fatores de risco e suas potenciais complicações.

O diabetes é a quarta causa de morte no país, que apontou aumento da incidência da doença de 2010 a 2016, ao registrar uma elevação de 12% nestes seis anos, chegando a 61.398 mortes. Os dados constam do requerimento de realização da sessão (RQS 554/2022), de autoria do senador Alexandre Silveira (PSD-MG), que recorreu a dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). O requerimento foi subscrito pelos senadores Eduardo Gomes (PL-TO), Paulo Rocha (PT-PA), Jean Paul Prates (PT-RN), Marcos do Val (Podemos-ES) e Marcelo Castro (MDB-PI).

Diabetes é provocado pela produção insuficiente ou má absorção de insulina, hormônio que regula a glicose no sangue e garante energia para o organismo. A insulina é um hormônio que tem a função de quebrar as moléculas de glicose (açúcar) transformando-as em energia para manutenção das células do organismo. A doença crônica pode levar a cegueira, insuficiência renal e até amputação.

Prevenção

A sessão foi presidida pela senadora Leila Barros (PDT-DF) que contou com representantes de entidades ligadas ao combate ao diabetes.

— O agravamento da doença traz danos severamente danosos para os doentes e suas famílias. Esse dano não só afeta a saúde do paciente, mas também todo o sistema de saúde pública, especialmente o SUS. Em 2022, a taxa da doença atinge 9,14% dos brasileiros ou 15 milhões de brasileiros adultos com a doença, cuja incidência é um pouco maior entre as mulheres. É preciso dedicar um olhar para as pessoas mais vulneráveis, para que possamos fazer escolha que favoreçam programas de prevenção contra o diabetes. Há uma lacuna entre as previsões legais e os programas instituídos para o tratamento da doença, como a falta de remédio em farmácias públicas e a inexistência de medicamentos mais modernos para os brasileiros — disse Leila.

Falta de diagnóstico

Representante da Associação de Diabetes Juvenis (ADJ), Lúcia Helena Xavier cobrou melhorias nas políticas públicas e a adoção de medidas mais eficientes no combate à doença.

— Há mais de 588 mil pessoas com diabetes no país, mais de 234 mil deveriam estar vivas, mas perderam a vida precocemente devido a complicações de diabetes. Isso não é problema só do Brasil. Uma causa comum na morte de jovens é a falta de diagnóstico, muitas vezes não temos esse atendimento imediato, e isso permite que mais de 75 mil crianças não façam seus aniversários. Esses dados precisam ser mudados. Mais de 52 mil pessoas não estão vivas por conta da falta de frasco de insulina. Uma em cada três pessoas não vai viver mais do que 55 anos. Para cada tira de glicose que eu faço a mais, eu ganho uma hora a mais de vida saudável, só que esses dados precisam ser passados para a população, que tem que aderir ao seu tratamento e ter autocontrole glicêmico — afirmou.

Educação

Coordenadora do Departamento de Campanhas da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Dhianah Santini defendeu a difusão de informações para tratamento da diabetes.

— É preciso levar condições para que, através da informação, as pessoas possam adquirir melhores cuidados no tratamento da doença. A gente precisa ter uma atenção especial, que é ensinar as pessoas sobre o diabetes. Por isso, o tema da campanha é educação. A gente não consegue ter um bom controle sem a educação quanto aos riscos, cuidados, diagnósticos, manuseio de remédios. A educação é a única forma de controlar a doença em todos os sentidos — afirmou.

Coordenadora do Departamento de Saúde Pública da SBD, Karla Melo defendeu a destinação de mais recursos orçamentários para tratamento do diabetes, a capacitação de profissionais de saúde, a incorporação de insulinas de ação rápida e a compra centralizada de medicamentos, e não mais por secretarias estaduais diferentes, visto que isso contribui para manter a heterogeneidade da doença.

— Muitas crianças com diabetes não praticam esportes porque são desaconselhadas, suas doses de insulina não são ajustadas para que possam fazer isso de forma adequada — afirmou.

Novos remédios

Coordenador de Saúde Digital, Medicina e Inovação em Diabetes da SBD, Márcio Krakauer defendeu a adoção imediata de tecnologia para tratamento dos portadores da doença. Ele destacou que há mais de vinte anos surgiram remédios modernos que ainda não foram incorporados para tratamento dos pacientes brasileiros, como bombas injetáveis, e medicamentos orais e injetáveis. Ele também defendeu a aprovação do projeto de lei (PL) 1.998/2020, de autoria da deputada Adriana Ventura (Novo-SP), que autoriza e disciplina a prática da telessaúde em todo o território nacional. Relatado pelo senador Veneziano Vital do Rego (MDB-PB), o projeto aguarda votação em Plenário.

— Nas regiões mais afastadas, o acesso às tecnologias é praticamente inacessível. As tecnologias têm um papel muito importante porque ajudam a melhorar a qualidade de vidas dessas pessoas. Quando a gente fala em controlar a glicose, a gente precisa ter qualidade de vida, não só longevidade. A incorporação de novas tecnologias tem a ver com controle da glicose e melhora de parâmetros de saúde, o que vai melhorar a chance de os pacientes terem complicações, entre elas a cegueira, a perda de rins, amputações e problemas cardíacos — afirmou.

Cegueira

Vice-presidente da SBD, Solange Travassos Figueiredo Alves ressaltou que perder a visão é um dos maiores medos das pessoas com diabetes, que hoje é a grande causa de cegueira evitável em pessoas em idade produtiva.

— Jovens entre 13 e 19 anos de idade com diabetes tratados em centros de referência já têm complicação crônica. São 20% deles. E 1,8% já começou a ter a visão afetada. Isso realmente não era para ser aceitável. A gente tem um degrau gigante entre o público e o privado. É preciso trabalhar a prevenção, nem todas as escolas estão preparadas para receber uma criança com diabetes. É preciso ter educação, mutirões e adoção de tecnologia. Investir em educação, prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado tem garantido retorno financeiro e social. É isso que nossos legisladores precisam entender — afirmou.

100 anos de insulina

Presidente da SBD, Levimar Rocha Araújo agradeceu a realização da sessão e prestou homenagem a Leila Barros, com a entrega de uma placa em nome da entidade que comanda. Ele destacou ainda os 100 anos de criação da insulina pelo cirurgião canadense Frederick Banting (1891-1941), embora haja registros de ocorrência da doença que datam de 1.500 anos AC.

— Em 14 novembro, nasceu o médico canadense que descobriu e desenvolveu a insulina. Em homenagem ao cientista, a data foi reconhecida mundialmente pelas Nações Unidas como Dia Mundial do Diabetes, dando tamanha relevância à questão. A insulina mudou o histórico do diabetes desde a sua descoberta. O tratamento do diabetes inclui medicação, alimentação, atividade física e educação. Precisamos educar os profissionais de saúde e pacientes para a gente fazer um futuro melhor. Mas não vamos ficar falando de futuro. Nós precisamos disso já, vamos desburocratizar — concluiu o presidente da SBD.

Fonte: Agência Senado