Gisèle Szczyglak foi a convidada da semana do ciclo de palestras “Diálogos com o Supremo”.
“A sociedade atual não reflete ainda uma verdadeira civilização. Aceitar que as mulheres ocupem os locais de poder é fazer com que essa sociedade represente de verdade a diversidade humana”, defendeu a professora Gisèle Szczyglak. Doutora em Filosofia Política com especialização em Sociologia Política e Ética Aplicada e especialista em equidade de gênero e igualdade profissional, a professora foi a convidada da última sexta-feira (11) do ciclo “Diálogos com o Supremo”.
Coadjuvantes
Segundo Gisèle, na história da civilização, as mulheres sempre foram consideradas atrizes coadjuvantes da democracia. “São subestimadas, não são mostradas como atrizes que contribuem com a civilização ou que fazem parte dela ativamente”.
A seu ver, ao longo dos séculos, esse pensamento fez com que se acreditasse que o masculino se constrói em oposição ao feminino, ou vice-versa. Homens e mulheres, no entanto, não são opostos. “Não há relação de forças metafísica ou natural entre homens e mulheres. Todos e todas fazemos parte do gênero humano. Se os homens e as mulheres nascem iguais por natureza, se tornam desiguais por conta da cultura. E essa é a questão: a desigualdade construída pela cultura”.
Mudanças
A mudança dessa realidade não se dá de forma natural, pois, para quem está no poder, a igualdade não é algo atrativo. O caminho, na avaliação da escritora, passa pela implementação de políticas públicas, leis e comportamentos que ajudem a modificar essa cultura.
Muitas mulheres, disse ela, não querem fazer parte de cotas ou ser alvo de política pública. Os homens, a seu ver, estão onde estão, justamente por se apropriarem da universalidade das normas e do direito. “Quando o homem fala, ele representa a humanidade. Quando a mulher fala, o faz a partir da marca biológica do gênero feminino. Nós, mulheres, precisamos mudar isso”.
Estudo
Ela apresentou dados do estudo Women Matter, que buscou medir o impacto da mixidade em organizações. O estudo provou que a mixidade é precursora da diversidade, na medida em que, quando se observa a entrada das mulheres nas instituições, abrem-se caminhos para outras diferenças.
O estudo revelou que empresas com mais mulheres nos conselhos de administração tinham rentabilidade e resultados operacionais superiores às que não tinham. Ainda de acordo com o levantamento, o crescimento das empresas inclusivas na bolsa de valores em dois anos foi de 64%, contra 44% de organizações não diversas.
Hoje, as mulheres, mais da metade do planeta, contribuem apenas com 37% do PIB mundial. Para 2025, o estudo projeta que a mixidade das organizações poderia aumentar o PIB mundial em 12 trilhões de dólares. “Vê-se que reduzir a lacuna de gênero nos espaços de poder tem o impacto positivo não apenas para as mulheres, mas para o bem coletivo, para o desempenho organizacional e para a economia mundial. Isso se chama bem comum, visão de mundo”, afirmou.
Programa
Esta é a segunda palestra do projeto “Diálogos com o Supremo”, que visa à difusão do conhecimento jurídico sobre temas relevantes e atuais, em formato de palestras e exposições. O evento é promovido pela Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação (SAE).
SP//CF