Jorge Eduardo Naime afirmou que essas informações não foram compartilhadas com o núcleo de inteligência da PM.
O ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar (DOP) do Distrito Federal Jorge Eduardo Naime afirmou nesta segunda-feira (26) que Agência Brasileira de Inteligência (Abin) alertou os órgãos de inteligência sobre ataque às sedes dos três Poderes às 10 horas do dia 8 de janeiro. A inasão começou pouco antes das 15 horas. No entanto, segundo ele, o núcleo de inteligência do DOP não teve acesso a esses alertas.
“Na semana anterior, a informação que estava rodando era que o acampamento do QG do Exército estava desmobilizado, que só havia poucas barracas, que só havia 500 pessoas, que continuava o desmonte do acampamento, que as estruturas estavam desmontadas e que o acampamento estava arrefecendo, esse era o clima”, disse.
Mas no sábado (7), conforme Naime, a Abin começou a passar via grupo de WhatsApp informações sobre a chegada de dezenas de ônibus e os discursos de incitação à invasão de prédios públicos dentro dos acampamentos.
“O que me causa estranheza é que no dia 8, às 10 horas da manhã, a Abin informa claramente que tinha uma confirmação de invasão de prédios públicos. Se essa informação chegou ao nível de comandante [da PM] e secretário [de Segurança], eles não tomaram providência”, disse. Segundo ele, neste momento, deveria ter sido acionado o Gabinete de Gestão de Crise.
Naime afirmou que essas informações não foram compartilhadas com o núcleo de inteligência do DOP . “No momento que não colocaram o DOP, eles cegaram o chefe do Departamento de Operações, que era o coronel Paulo José, e cegaram o subcomandante-geral, porque a agência de inteligência da PM é subordinada ao comandante-geral, ele não se reporta ao subcomandante-geral”, disse.
Na época dos atentados, o coronel Paulo José substituía Naime no comando do DOP. A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) questionou se a ordem para abertura da Esplanada dos Ministérios veio do coronel Paulo José.
“Eu não posso dizer se essa ordem veio dele, mas, pelo próprio protocolo de ações integradas, a competência de abertura e do fechamento da Esplanada é do secretário de Segurança, não é do chefe do DOP”, respondeu Naime.
Falha na inteligência
O deputado Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ), por sua vez, refutou os argumentos de que faltou informação para subsidiar a atuação da PM no controle das pessoas que se dirigiam dos acampamentos às sedes dos três Poderes. “Eu tenho dificuldade de entrar nessa tese de que não havia informação, o próprio depoente disse que as informações estavam disponíveis. Se há informação, e se há incompetência da PM, há omissão”, afirmou o parlamentar. Ele observou que o ministro da Justiça, Flávio Dino, já havia notificado o governador do DF sobre as ameaças de invasão no dia anterior.
Segundo Naime, a falha na inteligência impossibilitou a mobilização de efetivo da PM para a segurança dos prédios federais. “A PM falhou porque ela fez um planejamento subestimado, porque as informações que foram dadas sexta-feira eram diferentes das informações que tínhamos no domingo às 10 horas da manhã. E não chegaram ao DOP as informações de 10 horas da manhã”, rebateu Naime.
Desmobilização de acampamentos
Em resposta à relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), sobre as providências para desmobilizar os acampamentos em Brasília às vésperas dos ataques, Naime informou que em 29 de dezembro registrou alerta sobre o problema de segurança pública ao Distrito Federal, mas não tomou providências.
Ele atribuiu a “culpa” pela não desmobilização ao general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto (CMP). “A informação que eu recebi foi do general Dutra desmobilizando as tropas e dizendo que não seria necessário, inclusive, ele fez algumas alegações de que trouxeram efetivo demais”, frisou.
Nesse ponto, a relatora quis saber se houve tentativa de contornar as falhas do comando do general Dutra. “O senhor buscou outros meios, outros canais, de trazer essa informação para o próprio governador, a Secretaria de Segurança Pública ou para a instância federal?”.
“Precisamos recordar que estamos tratando de uma instituição militar, não civil. Eu tenho uma hierarquia, e aos meus superiores, eu mandei documentos, fiz informes”, rebateu Naime.
Fonte: Agência Câmara de Notícias