Para o Parlamento catarinense, celebrar o nascimento de 124 anos de Antonieta de Barros é resgatar o protagonismo da primeira mulher negra deputada das Américas. Inspirado nessa constatação, trazida à luz pela professora catarinense Jeruse Romão, o Parlamento, além de dedicar ao mês de julho uma agenda de atividades para marcar o nascimento da primeira mulher negra eleita deputada estadual em 1935 por Santa Catarina, já fez sua lição de casa.
Há mais de duas décadas, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina reverencia a sua memória e o seu legado através do Programa Antonieta de Barros (PAB), uma iniciativa voltada para a inclusão social que em 21 anos atendeu mais de 600 jovens com a oportunidade de estágio no Parlamento. O programa foi instituído pela Lei 13.075/04 e idealizado pelo Fórum de Mulheres Negras de Florianópolis. O PAB tem como objetivo minimizar desigualdades socioeconômicas e presta, de quebra, uma homenagem a Antonieta de Barros, madrinha da ação.
Colorir a vida
Para o presidente do Parlamento, deputado Júlio Garcia ( PSD) é importante reverenciar a memória daquelas personalidades que deixaram um legado na história, de modo especial, na história política do estado. “Antonieta de Barros foi a primeira mulher deputada em Santa Catarina, uma professora, negra, pobre, que se destacou pela sua atuação. Foi pioneira e o Parlamento tem atuado de forma efetiva para reverenciar a sua memória”, afirmou, destacando a atuação do PAB. “Um programa pioneiro e inovador de nosso Parlamento, que acolhe crianças e jovens em situação de vulnerabilidade de nosso estado“, pontuou.
Para ele, agendas que enaltecem a importância de Antonieta de Barros trazem visibilidade a sua história. “Não basta existir, é preciso encher do colorido do bem a vida”. Essa citação dela, resume o que a gente deve fazer na política”, confessa.
Pioneirismo
Professora e escritora Jeruse Romão apresentou uma novidade na biografia de Antonieta de Barro. Em seus estudos a respeito da vida de Antonieta, Jeruse fez uma revelação. “Nós já podemos afirmar que Antonieta de Barros não é só a primeira deputada negra do Brasil, nem só a primeira deputada negra da América Latina, nós podemos dizer que ela é a primeira deputada negra das Américas”, constatou.
Essa informação atesta ainda mais o pioneirismo da personalidade de Antonieta de Barros, que foi atuante em três frentes: educação, área social e no jornalismo. Como jornalista, fundou e dirigiu o jornal “A Semana”, onde publicava crônicas voltadas para a educação, política e condição feminina. Como docente, criou o curso Antonieta de Barros, que alfabetizava adultos e como legisladora, participou da elaboração da Constituição do estado, escrevendo capítulos sobre Educação, Cultura e Funcionalismo.
Ainda como uma das líderes do Movimento Negro da Capital, Jeruse Romão informa que no mês que celebra o aniversário de nascimento de Antonieta de Barros uma boa noticia se concretizou “A Escola Antonieta de Barros, fechada há 15 anos, será restaurada, uma luta antiga”, confessou, informando que o local se transformará em um centro de cultura e de arte negra no centro de Florianópolis.
Cátedra Antonieta de Barros da UFSC
A criação da Cátedra Antonieta de Barro, uma unidade acadêmica da UFSC em formato de rede interinstitucional, é outra novidade que foi batizada em homenagem à deputada catarinense.
A unidade, que integra o programa de Cátedras da Unesco/Rede Unitwin (University Twinning and Networking Scheme), é vinculada ao Gabinete da Reitoria e destina-se à promoção de pesquisas, estudos e debates no campo da Educação para a Igualdade Racial e Combate ao Racismo, contribuindo para o avanço na produção de conhecimentos comprometidos com a formulação de políticas públicas e a formação de profissionais qualificados nessa área. A coordenação da unidade fica a cargo das professoras Joana Célia dos Passos e Karine de Souza Silva.
Joana admite que esse projeto é muito importante para a UFSC. “O nosso objetivo é amplificar as discussões acerca das questões raciais a partir da pesquisa, do ensino e da extensão”, admitiu a docente, que é a atual vice-reitora da UFSC e a primeira mulher negra a ocupar esse cargo na instituição. Ela admite que Antonieta de Barros é uma inspiração em sua vida. “Eu gosto de pensar é que Antonieta era uma pensadora sobre as dimensões da vida de homens e mulheres negros e negras no campo dos direitos”, observou.
Antonieta Presente
Pelo seu legado, Santa Catarina, em especial, a Capital, “respira” Antonieta de Barros. Ela está presente em forma de homenagem em obras arquitetônicas como o túnel Antonieta de Barros, que foi o primeiro túnel da Capital inaugurado em 2002. Bem no coração de Florianópolis, por exemplo, na Tenente Silveira, um mural com uma figura de 34 metros de altura estampa na lateral de um prédio o rosto da deputada. Por ser uma das personalidades mais reverenciadas no estado, o Parlamento, por iniciativa do deputado Marquito (Psol) apresentou a exposição “De quantas formas Antonieta é lembrada”, que encerrou dia 17 de julho, apresentando aos visitantes as muitas faces da política, educadora, jornalista, mulher, negra, que deixou um legado que até hoje é reverberado!
Valquíria Guimarães
Agência AL