Foto: Thiago Diz/WSL

Tati Weston-Weeb, Filipe Toledo e Italo Ferreira, principais nomes brasileiros, se recuperam e estão de volta à briga. Luta contra o corte vai pegar fogo na Austrália

Agora embolou. Depois da terceira etapa da WSL Tour, as previsões do começo da temporada já foram para o espaço e tudo indica que teremos um ano de muito equilíbrio, com emoção de sobra, tanto para o corte quanto para a definição dos cinco classificados para a WSL Finals. Tanto no masculino quanto no feminino, cada etapa teve uma dupla diferente no pódio. Só para lembrar, sempre com o campeão e campeã na frente: Kelly Slater e Seth Moniz e Moana Jones e Carissa Moore, em Pipeline; Barron Mamiya e Kanoa Igarashi e Brissa Hennessy e Malia Manoel, em Sunset, e Grigffin Colapinto e Filipe Toledo e Tatiana Weston-Weeb e Lakey Peterson.

A boa notícia é que os principais nomes brasileiros reagiram e voltaram para a briga após a prova de Peniche, em Portugal. Não foram apenas a campeã Tati e o vice Filipinho que se recuperaram em Portugal. Italo Ferreira, que vinha de um nono e um17º lugar no Havaí, chegou a semifinal, sendo parado justamente pelo vice-campeão, e agora já aparece entre os dez melhores do ranking, liderado pelo regular e eficiente Kanoa Igarashi. Se após Sunset, onde o japonês ficou em segundo lugar e assumiu a ponta, eu já apostava que ele está caminhando para conseguir um lugar no Top-5 final, agora esta imagem se consolidou, com mais um bom quinto lugar, repetindo Pipeline.

Filipinho ganhou três posições e agora aparece em quarto lugar do ranking, e a etapa foi ainda melhor para a Tati. Com a vitória, ela saiu do 14º para o quarto lugar, saltando de abaixo do corte para o Top-5. Italo também melhorou bem sua situação, indo de 16º para 10º, já olhando para uma vaga entre os cinco primeiros. Caio Ibelli perdeu uma bateria no mínimo polêmica para Slater, não repetindo os resultados e caindo duas posições, para sexto. O cinquentão Slater chegou às quartas de final e está em segundo.

A briga por um lugar na WSL Finals ainda tem muita onda pelo caminho, mas o corte do meio da temporada já está batendo na porta. Serão apenas mais as duas etapas da Austrália, em Bells e Margaret River, para definir os 22 homens e 10 mulheres que terão direito a continuar na disputa pelo título e garantirão seus lugares no CT-2023. Vale lembrar que haverá o descarte de uma etapa.

Enquanto Tati, Filipe, Italo, Ibelli e até mesmo Miguel Pupo, 11º, estão mais tranquilos, as etapas australianas serão fundamentais para a sobrevivência de Samuel Pupo, João Chumbinho Chianca, Jadson André e Deivid Silva. Depois de brilhar com um quinto lugar em Sunset, Samuca repetiu em Portugal o 17º lugar de Sunset e está no limite do corte, dividindo a 18ª colocação com mais quatro surfistas. Já Chumbinho, o outro estreante brasileiro, aparece em 23º, junto com mais dois surfistas.

O tipo de onda de Bells, somente direitas, e Margaret, predominantemente direitas, pode ajudar aos dois novatos, que surfarão de frente para onda e já mostraram muitas qualidades em condições pesadas, como as esperadas na Austrália. Acredito que eles têm boas chances de se garantirem, apesar de sempre enfrentarem surfistas mais bem ranqueados nas baterias. Não é nada fácil a vida para os novatos. Para veteranos também tem sido complicado. Jadson fez até boas baterias, mas encontrou adversários que vivem um bom momento. Nos três eventos, foi eliminado pelo campeão ou pelo vice. Já o Deivid Silva poderia ter se recuperado em Portugal, mas com a filhinha de quatro meses internada no Brasil, não teve cabeça para competir. Todos precisam de resultados na Austrália.

Bom, muito já se falou da etapa portuguesa, mas como minhas considerações foram mais no twitter, vamos tentar fazer um breve resumo por aqui também. Acredito que tanto no masculino quanto no feminino venceram os surfistas que tiveram a melhor trajetória na competição. Dá até para se discutir uma nota aqui e outra ali, mas Colapinto chegou ao título deixando pelo caminho Slater, Kolohe Andino, JJ Florence e Filipinho. Não é tarefa para qualquer um e um grande feito para um surfista muito talentoso, que era tido como um competidor hesitante e até meio disperso. Ele nunca tinha feito uma final e quebrou essa barreira. Deve ganhar confiança e pode brigar por uma vaga nas finais.

Assim como Colapinto, Tati também foi muito bem em todas as fases e venceu com autoridade a bateria mais difícil na caminhada, na semifinal contra Carissa Moore. A “velha guarda” deu o troco no feminino e deixou as novatas para trás, passando a ocupar as primeiras posições do ranking. Esse duelo de gerações vai marcar o ano e será uma das atrações da temporada.

Não dá para deixar de falar da primeira nota dez da temporada, de Colapinto nas quartas-de-final, numa bateria em que dominou completamente o compatriota Kolohe Andino. Foi um grande aéreo, alto, percorrendo uma boa distância, full rotation e aterrisagem perfeita. Digno de uma nota dez. A discussão que surgiu foi a que o trio de ouro do Brasil, Gabriel Medina, Italo e Filipinho, volta e meia tem feito aéreos muito parecidos e o dez não aparece. Em Portugal mesmo, o Ítalo fez uma onda com um aéreo e uma batida na junção que valeu menos de 8. Não era para dez, mas poderia ter chegada a nove. Parece-me que os brasileiros estão sendo punidos por sua excelência, pela facilidade que têm para executar as manobras. Ora, as manobras continuam difíceis, apenas os brasileiros as tornam fáceis. Este é um tema que ainda vou voltar.

Já que estamos nessa seara, tem uma pergunta que fiz no twitter que repito agora. Se fosse ao contrário, o Caio Ibelii no lugar do Kelly Slater, será que os juízes considerariam aquele tubo completo? Tenho minhas dúvidas e acho que o nome e o desejo de ver o Supersenior nas finais pesaram. E olha que tem chances de chegar a Trestles. Ocupa a segunda colocação, costuma ir bem em Bells e Jeffrey’s Bay, estará entre os favoritos em G-Land e Teahupoo. Continuo achando um 12º título muito difícil, mas o sonho das WSL Finals está vivo.

Faltaram tubos em Supertubos e a finais foram disputadas em condições bem fracas, com boas ondas, mas muito pequenas. A Praia do Medão não é um lugar fácil para o campeonato. A mudança de maré e o vento podem estragar qualquer bom swell com muita facilidade. Assim, a competição, que foi disputada em cinco dias, teve momentos excelentes, principalmente no domingo, outros razoáveis e alguns muito ruins, como na bateria do Chumbinho. Em melhores condições, com tubos, aposto que ele vence oito de dez baterias contra o Conner Coffin, surfista repetitivo e sempre bem julgado.

Para quem veio de duas etapas mágicas no Havaí, não deixou de ser um pouco decepcionante. O mais impressionante é que até uns dois dias antes da competição o mar esteve incrível. A grande reclamação de quem gostaria de ver uma disputa em ondas boas, foi que existia uma previsão de melhores condições para quarta e quinta-feiras, mas a direção de prova resolveu botar as finais na segunda mesmo. A sorte é que os surfistas são de um nível muito alto e conseguem fazer coisas inacreditáveis mesmo com ondas mais ou menos.

Fonte: GE SURF/ BOAS ONDAS DIEGO MOURÃO/