Foto: Amanda Miranda/Divulgação

Uma equipe da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desenvolveu um método portátil para identificar a presença do herbicida fluometuron na água ou sangue. O estudo foi publicado em uma revista científica internacional.

O procedimento envolve um eletrodo e um medidor de corrente elétrica, explicou a professora Cristiane Jost, que orientou os trabalhos. A equipe, do Laboratório de Plataformas Eletroquímicas (Ampere), começou os estudos em 2020 em Florianópolis. A pesquisa foi divulgada pela UFSC na terça-feira (5).

A professora contou como surgiu a ideia. “No começo de 2020, [a identificação do] fluometuron era considerada inédito do ponto de vista da abordagem da eletroquímica. Ainda não havia sido detectado pela eletroquímica. Tivemos interesse em desenvolver”.

“Até então, o fluometuron era só detectado por ferramentas analíticas mais elaboradas, mais caras, equipamentos de acesso mais limitado. Tínhamos o intuito de trabalhar com esse composto do ponto de vista mais fácil, de mais acesso. Na minha opinião, [o método desenvolvido] é mais atrativo porque possibilita o uso de ferramentas mais baratas”, completou.

Como funciona?

Para fazer a detecção, a equipe usa um eletrodo e um dispositivo que mede corrente elétrica. Dessa forma, não é preciso uma análise em laboratório.

Eletrodo (metal cinza na foto) usado para a detecção do herbicida — Foto: CristianeJost/Arquivo pessoal

Eletrodo (metal cinza na foto) usado para a detecção do herbicida — Foto: CristianeJost/Arquivo pessoal

Para explicar melhor, a professor deu o exemplo de alguém que quisesse descobrir se há a presença do herbicida em um rio. “Pego um pouco da água do rio, coloco dentro de um frasco e faço o teste direto lá em campo. Isso não era possível até então”.

O eletrodo, que é colocado dentro do frasco com a amostra, possibilita a transferência de elétrons. Além dele, o método usa também um dispositivo que mede corrente elétrica. Segundo a professora, caso haja essa corrente, é porque há a presença do herbicida. Se não houve, não houve a transferência de elétrons e, portanto, não há o fluometuron.

Dispositivo usado para medir a corrente elétrica — Foto: Cristiane Jost/Arquivo pessoal

Dispositivo usado para medir a corrente elétrica — Foto: Cristiane Jost/Arquivo pessoal

O resultado apresentado pelo dispositivo que mede a corrente elétrica pode ser visto no celular ou computador.

Futuro

Com o desenvolvimento dos estudos, a equipe quer ampliar o método. “Nossa proposta é poder levar o dispositivo para a beira da Lagoa da Conceição ou da Lagoa do Peri [em Florianópolis], identificar outros compostos, a presença de metais de outros herbicidas também”, afirmou a professora.

Para identificar essas outras substâncias, é preciso fazer ajustes na superfície do eletrodo, explicou.

Em torno de 10 alunos, de graduação e pós-graduação, atuaram nesse trabalho, além de outros professores.

Professora Cristiane Jost (no meio) com parte da equipe do estudo de detecção do herbicida — Foto: Amanda Miranda/Divulgação

Professora Cristiane Jost (no meio) com parte da equipe do estudo de detecção do herbicida — Foto: Amanda Miranda/Divulgação

A equipe tem um objetivo com este estudo já feito. “Nosso foco é verificar se a legislação é atendida”, disse a professora.

Ela explicou também os problemas que podem ser causados pelo excesso de fluometuron. “Ele é classificado como um composto poluente persistente no ambiente. Ele fica em torno de 110 semanas na água, pelo menos, sem sofrer alteração. Pode ficar no rio, em plantação”, afirmou.

“Naturalmente, [o fluometuron] pode causar algum impacto na região, em alguém que toma aquela água, alguém que planta naquele solo. É potencial causador de câncer também. Como permanecem muito tempo no solo, no meio ambiente, pode haver efeitos danosos”, completou a professora.

Por Joana Caldas, g1 SC