Depois do sinal verde dos conselheiros do Cruzeiro, Ronaldo respirou fundo, agradeceu a confiança do clube que o lançou e tratou de arregaçar as mangas para trabalhar. Seu foco agora é buscar dinheiro para o time. Ronaldo vai rever os cinco contratos que o clube tem em sua camisa, o principal deles com o BH Supermercados, de Pedro Lourenço, cujo faturamento no ano passado bateu em R$ 11 bilhões. O vínculo da empresa vai até o fim de 2023. Foi o grupo na área de venda de alimentos que segurou a onda da equipe nas últimas temporadas, inclusive adiantando valores para bancar dívidas e evitar o risco de não poder jogar.

Ronaldo vai sentar-se à mesa com Pedro e seus pares a fim de discutir valores de novos contratos de patrocínio. Até o fim do ano, não pretende mudar o que está combinado. Mas também não vai esperar pelo fim da Série B para negociar acordos. Ronaldo quer “vender” o projeto do Cruzeiro, independentemente de sua campanha de acesso no Campeonato Brasileiro. Na estreia, o time perdeu para o Bahia.

Atualmente, o BH Supermercados é o maior parceiro do Cruzeiro. É possível que o clube tenha pendências com a empresa na ordem de R$ 50 milhões – nenhuma das partes revela isso. O fato é que Ronaldo olha para o mercado com bons olhos. O clima é de otimismo na Toca da Raposa. O novo dono do clube tem na manga algumas negociações encaminhadas, mas não revela. No dia 18, poderá assinar, finalmente, toda a papelada assumindo oficialmente o comando do time.

“A gente está negociando novas cotas da camisa, e estamos bem próximos de fechar uma novidade bem bacana que vamos trazer já, já. Tem muita gente bacana querendo entrar no projeto novo do Cruzeiro. A gente vê as melhores opções para fechar o melhor projeto, mas está bem legal o interesse pela camisa do Cruzeiro e pelas outras entregas que podemos ter”, afirmou Ronaldo na semana passada.

Mais do que o aporte financeiro para as dívidas de curto prazo do clube, com execuções iminentes, e a ingestão de alento ao torcedor que tanto sofreu com elencos fracos e com o time enterrado na Série B nas duas últimas temporada (esta é a terceira), o agora CEO do Cruzeiro tem certeza de que mudou o status da equipe no mercado. Gozando de sua imagem vencedora como atleta, aliado ao perfil arrojado de empresário, o Fenômeno abre portas que até pouco tempo atrás estavam fechadas ao clube.

Paralelamente, enquanto trabalhava a aprovação da SAF (Sociedade Anônima do Futebol), que foi sacramentada no último dia 4, Ronaldo nunca deixou de buscar parceiros comerciais, o que o ajudaria a cobrir o rombo e a trazer investimentos para o time. No dia da aprovação dos conselheiros do clube, ele revelou que algumas empresas do Brasil estavam dispostas a associar sua marca ao Cruzeiro – não revelou quais seriam e como seriam esses negócios. Ronaldo não esconde que sua intenção é subir com o time para a primeira divisão, triplicando assim o faturamento do clube.

Ainda que o nome de um novo patrocinador e posição na camisa sejam mantidos em segredo, o Cruzeiro deverá anunciar nos próximos dias ao menos mais um acordo, que se somaria aos cinco patrocinados que tem atualmente no uniforme. Seu desafio é fazer com que esses acordos consigam dar viabilidade à operação. São R$ 50 milhões de investimentos imediatos, a promessa de injetar mais R$ 350 milhões, pagar R$ 200 milhões de dívidas tributárias até 2032 e fazer o time jogar.

Em 2023, porém, segundo apurou a reportagem do Estadão, a história deverá mudar um pouco. Ronaldo tem conversas adiantadas com interessados em ocupar o lugar mais nobre na camisa do time, apesar do vínculo com o BH Supermercados até dezembro do mesmo ano – que pode ser rompido, caso apareça alguma oferta atrativa. Porém, isso dependerá de qual divisão o clube estará ao fim do ano. Caso volte à elite, a tendência é de troca de patrocinador. Entretanto, a empresa do ramo varejista, que bancou parte da manutenção da equipe nos dois últimos anos, ainda mantém conversas e estaria disposta a investir mais no futebol, auxiliando na contratação de um jogador de peso para 2023.

EFEITO TEXTOR – O duelo entre Botafogo e Corinthians, disputado no domingo, pela primeira rodada do Brasileirão, trouxe aos espectadores uma situação incomum: o time da estrela solitária entrou em campo com uma camisa “limpa”, tal qual seu escudo, com um único patrocínio localizado na manga esquerda. Para quem já acompanhava o dia a dia do clube de General Severiano, essa já era uma “pedra cantada” desde fevereiro, quando o CEO do clube, John Textor manifestou o desejo de fazer da camisa um espaço mais valorizado.

“Hoje optei por rejeitar formalmente vários acordos comerciais que acredito dificultar a globalização da nossa gloriosa marca Botafogo, contratos que acredito não refletirem os objetivos estratégicos do novo Botafogo FR SAF. O cancelamento desses contratos de uniformes, patrocínios, entre outros, abrirá caminho para uma infinidade de novas oportunidades e acordos que refletirão melhor esse momento histórico do nosso clube e apoiarão melhor nossas ambições de construir uma nova tradição de sucesso para o Mais Tradicional”, afirmou, à época, o investidor americano.

A ideia de Textor é colocar no Botafogo uma lógica de mercado onde menos espaços da camisa serão vendidos e, com isso, o investidor sinta-se tentado em pagar mais para maior exposição da sua marca sem “poluição”, o inverso do que os clubes brasileiros fizeram nos últimos anos, quase sempre fatiando seus espaços por dinheiro.

Em Minas, a tendência é que o Cruzeiro siga essa lógica a partir dos próximos contratos. Se em 2009, quando chegou ao Corinthians, Ronaldo foi um case no mercado ao trazer vários patrocinadores para o uniforme do clube do Parque São Jorge, o que fez que a camisa tivesse estampa de marcas até mesmo nas axilas, o Fenômeno agora almeja a valorização do uniforme no formato “mais europeu”.

Uma campanha vitoriosa na Série B ajudará muito nessa caminhada. O time nem precisa ganhar a competição, mas se posicionar no fim entre os quatro que subirão em 2023. Um novo fracasso pode atrapalhar tudo, No Mineirão, após a derrota para o Atlético na final, o torcedor gostou do time na competição. Nesta terça, o Cruzeiro encara o Brusque, também no Gigante da Pampulha, na segunda etapa dessa missão. Após a derrota para o Bahia, na estreia, a esperança é que o Cruzeiro dê uma resposta positiva em campo, como vem dando, aos poucos, ao mercado.

POR ESTADAO CONTEUDO