O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta segunda-feira, 21 de julho, uma ampla atuação dos líderes globais em prol da democracia e da promoção da igualdade, durante participação em encontro com representantes da sociedade civil, em Santiago. O evento ocorreu no âmbito da reunião de alto nível “Democracia Sempre”, organizada pelo presidente do Chile, Gabriel Boric, e que contou também com a presença dos líderes de Colômbia (Gustavo Petro), Espanha (Pedro Sánchez) e Uruguai (Yamandú Orsi).
“Nossa missão histórica é a de ser portadores da esperança e promover a igualdade e o desenvolvimento sustentável. Democracia não é só votar — é ter comida na mesa, ter uma casa, ver seus filhos na universidade, desfrutar de lazer e cultura”, ressaltou o presidente brasileiro.
Lula lembrou que a democracia é recente na América Latina. “Nossa preocupação fundamental é recuperar o sentido da palavra democracia para a nossa sociedade. Aqui, na América Latina, nós temos pouquíssima experiência de democracia. Então, esta reunião é um marco importante para que a gente tenha uma sociedade civil, através dos intelectuais, das ONGs, de companheiros ligados às igrejas e ao movimento social, preocupada com a democracia”, afirmou.
Durante o encontro, Lula destacou que sua luta é pelo fim da desigualdade. “Eu governo para todos. Mas todo mundo tem que saber que eu tenho um lado. A luta contra a desigualdade é a razão da minha vida”, frisou.
O presidente brasileiro também abordou a mudança nos tipos de ataques à democracia. “Os inimigos da democracia não recorrem mais à diplomacia dos tanques e das canhoneiras. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo. Promovem uma verdadeira guerra cultural. Utilizam o comércio como instrumento de coerção e chantagem. Atacam as instituições, a ciência e as universidades. Solapam a solidariedade entre as nações”, disse.
Lula enfatizou ainda que a fome e a pobreza devem estar no centro dos debates dos chefes de Estado. “Recolocar o combate à fome e à pobreza no centro das prioridades da comunidade internacional é a principal tarefa da Aliança lançada pela presidência brasileira do G20, no ano passado. Sem justiça tributária, as distorções continuarão se ampliando em favor do grande capital e dos bilionários. Os super-ricos e os negacionistas andam de mãos dadas. Os efeitos da mudança climática têm deteriorado a qualidade de vida em todo o mundo”.
DISCUSSÕES — O evento consistiu em reunião reservada entre os presidentes, seguida de declaração à imprensa, almoço e encontro com representantes da sociedade civil, do meio acadêmico e de centros de reflexão (think tanks). As discussões foram organizadas em torno de três eixos centrais: defesa da democracia e do multilateralismo; combate às desigualdades; e tecnologias digitais e o enfrentamento à desinformação.
CONSENSO — Os líderes reunidos em Santiago divulgaram uma declaração conjunta com compromissos e consensos em defesa da democracia. O documento, publicado pelo Itamaraty, destaca ações prioritárias e premissas que consideram essenciais, como:
» A promoção de um multilateralismo inclusivo e participativo
» A reforma do sistema de governança global
» O fortalecimento de uma diplomacia democrática ativa, baseada na cooperação entre Estados que compartilham os valores da democracia, da justiça social, dos direitos humanos e da soberania
» Reafirmar o compromisso com a paz, o respeito ao direito internacional e a direitos humanitários
A partir desses conceitos, foram definidas uma série de iniciativas:
» Comprometimento em criar uma rede de países e sociedade civil para impulsionar mecanismos participativos, visando uma democracia mais aberta e inclusiva.
» Apoio à formação de uma rede global de think tanks para gerar análises e fomentar debates baseados em dados, buscando propostas em defesa da democracia.
» Colaboração internacional para garantir a transparência algorítmica e na gestão de dados, promovendo uma governança digital democrática.
» Reforço à iniciativa da ONU e UNESCO para a integridade da informação sobre as mudanças climáticas.
» Acompanhamento do Compromisso de Sevilha para fortalecer o financiamento para o desenvolvimento.
» Apoio à criação de uma coalizão para promover uma tributação progressiva e justa, além de fortalecer a cooperação fiscal internacional com base na transparência e equidade.
» Promoção de um observatório multilateral de juventudes contra o extremismo, liderado pela Organização Ibero-Americana de Juventude (OIJ), para gerar dados e desenvolver políticas inclusivas.
ORIGEM E PERSPECTIVA — A iniciativa foi promovida para dar seguimento à primeira reunião de alto nível “Em defesa da Democracia: lutando contra o extremismo”, realizada em 24 de setembro de 2024, à margem da 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, e convocada pelos presidentes Lula e Pedro Sánchez, da Espanha. Está prevista para setembro deste ano a realização da segunda edição da reunião da iniciativa, no contexto da 80ª Semana de Alto Nível da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York.
Fonte: Comunicação | Palácio do Planalto