Como informado nesta quarta-feira, 6, o Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) instaurou um inquérito civil para investigar a suspeita de imprudência do Hospital Beatriz Ramos, em Indaial, no tratamento de pacientes com coronavírus.
A investigação diz respeito a uma possível utilização de doses elevadas do medicamento Propofol em pacientes internados na UTI Covid-19, que podem ter ocasionado casos de Síndrome de Infusão de Propofol e até mortes.
As investigações correm em sigilo, devido aos dados pessoais de pacientes. A Polícia Civil de Indaial também está investigando o caso na esfera criminal, após solicitação do MP-SC.
Nesta quinta-feira, 7, o jornal O Município Blumenau teve acesso com exclusividade a algumas informações e documentos que embasaram a denúncia e a instauração do inquérito.
Durante os últimos dois anos, de março de 2020 até março de 2022, o Hospital Beatriz Ramos internou 366 pessoas por Covid-19 e registrou 90 óbitos que tiveram relação com a doença. Porém, não foi informado o período em que as supostas aplicações excessivas do medicamento podem ter sido feitas. O que se sabe, é que não ocorreram durante todos os 24 meses.
A denúncia surgiu em meio a pandemia e a outras investigações envolvendo o hospital – como a suposta insuficiência estrutural para instalação da UTI Covid-19. Outros inquéritos e procedimentos relacionados ao tema estão em andamento no MP-SC.
Sobre o caso dos sedativos em específico, na denúncia, são apontados indícios de que pacientes internados no local tenham recebido mais do que o dobro do máximo de aplicações indicadas pelo fabricante – laboratório.
Além disso, há comprovações de que foram registrados diversos problemas renais em alguns pacientes, e que podem ter relação com óbitos ou Síndrome de Infusão de Propofol. O referido medicamento, quando aplicado em excesso, pode causar índices elevados de creatinina, ureia, trigicerídeos e etc – que sem um tratamento de hemodíalise, pode acarretar em insuficiência renal.
E conforme nota divulgada pelo próprio hospital, as hemodiálises só começaram a ser realizadas na unidade a partir de dezembro de 2020. Antes disso, o Beatriz Ramos não possuía o serviço.
No âmbito policial, a delegacia de Indaial deve solicitar em breve que a Polícia Cientifica – antigo IGP – realize as perícias para comprovar se houve ou não o uso excessivo dos sedativos. Além disso, entender qual o nível de relação que isso pode ter com o agravamento dos problemas de saúde dos pacientes ou até óbitos.
Com esses dados, somados ao confronto das informações da denúncia e dos esclarecimentos dos responsáveis pelo hospital e médicos, o promotor poderá dar seguimento ao caso. Caso não haja comprovação de crime ou irregularidades cometidas pelo hospital, o inquérito é arquivado. Se sim, o MP-SC deve apresentar denúncia à Justiça.
Propofol
O medicamento, segundo a bula, é indicado para indução e manutenção de anestesia geral em procedimentos cirúrgicos. Ou seja, significa que o Propofol faz com que o paciente fique inconsciente ou sedado durante operações ou outros procedimentos.
Ele também é utilizado para sedação de pacientes que estejam em UTI com ventilação mecânica – casos que se tornaram comuns na pandemia de Covid-19.
Contraponto
Nossa equipe entrou em contato com a administração do hospital, que, por meio de nota, informou que está ciente das investigações, mas que todas as explicações serão respondidas aos órgãos oficiais. O hospital não quis se pronunciar sobre o objeto do inquérito. Confira a nota na íntegra:
NOTA OFICIAL DE ESCLARECIMENTO
Esclarecimento sobre denúncia do MP-SC ao possível uso excessivo do medicamento propofol em pacientes com Covid-19
O Hospital Beatriz Ramos informa que está ciente da investigação por parte do Ministério Público de Santa Catarina sobre os possíveis casos de uso excessivo do medicamento propofol em pacientes com Covid-19. O HBR já está respondendo ao órgão oficial, prestando todos os esclarecimentos solicitados.
POR O Município Blumenau