“De certa forma, o track financeiro cumpriu sua missão”. Com essa frase, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, resumiu o sentimento de dever cumprido durante a coletiva de imprensa sobre a 4ª reunião de Ministros das Finanças e Governadores de Bancos Centrais do G20, nesta quinta-feira (24/10), em Washington (EUA). Durante o evento, ele destacou o papel central do grupo nas discussões das crises globais recentes e na construção de uma agenda robusta de reformas que definirá o futuro das maiores economias do planeta.
“O Brasil está muito satisfeito com os resultados dos dois comunicados aprovados por consenso, como de costume, que refletem nossas intenções anunciadas no final de 2023, quando assumimos a presidência do grupo”, disse o ministro. O encerramento da trilha de finanças é um dos últimos compromissos do Brasil à frente da presidência do G20 antes da cúpula presidencial, que será realizada em novembro no Rio de Janeiro.
Haddad, ao lado do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, da secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, e do diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Paulo Picchetti, fez um balanço positivo dos avanços alcançados e deixou claro que o futuro trará novos desafios. “Hoje, durante a reunião ministerial, todos nós estávamos muito à vontade com o fato de que, de certa forma, o track financeiro cumpriu sua missão de trabalhar com todos esses 27 países, superando a crise de 2008 e a pandemia”, afirmou.
O comunicado desta última reunião de ministros e presidentes de Banco Centrais mostra como o Brasil, como presidente do grupo, auxiliou na mediação que culminou com avanços importantes nas principais pautas econômicas globais. O documento aponta para o consenso entre os países do G20 da necessidade do fortalecimento do combate à desigualdade e às mudanças climáticas, reconhecendo que o “custo da inação é maior do que o custo da ação, tanto em termos econômicos quanto distributivos”. Além disso, o Brasil ajudou no avanço do debate sobre reformulação dos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (MDBs), assegurando que eles estejam mais preparados para enfrentar desafios globais, especialmente nos países de baixa e média renda.
Outro avanço significativo presente no comunicado foi a promoção de uma cooperação internacional mais robusta na área tributária. Em linha com a histórica Declaração do Rio de Janeiro sobre Cooperação Tributária Internacional, este último comunicado prevê uma maior cooperação entre os países para garantir que “indivíduos de altíssimo patrimônio sejam efetivamente tributados”, pauta esta apresentada pelo Brasil como prioritária para reduzir desigualdades e um ponto central para o crescimento econômico inclusivo.
A presidência brasileira também se destacou no apoio a países em situação de vulnerabilidade financeira. Ao liderar discussões sobre soluções coordenadas para o endividamento soberano e a transparência na gestão de dívidas, o Brasil reafirmou seu compromisso em promover a estabilidade financeira global, com foco especial nas economias mais fragilizadas.
“Embora tenhamos alcançado diversos avanços em discussões importantes, ainda há obstáculos pela frente”, salientou o ministro. “Esses desafios, que de alguma forma foram superados, ainda estarão presentes no futuro e podem ser tão desafiadores quanto os mais recentes”, disse. Para Haddad, a economia global precisa estar preparada para lidar com crises que ainda podem testar a capacidade de resposta dos países, e o G20 segue como peça central para coordenar ações que mitiguem essas crises. “Há uma agenda de reformas muito extensa que envolve não apenas o G20, mas também a OCDE e o sistema da ONU, no sentido de buscar instrumentos para trazer equilíbrio”, disse.
De acordo com Haddad, há a necessidade de novos mecanismos financeiros para os países de baixa renda, especialmente os endividados. “O comunicado de hoje também foi um consenso. Todos os bancos multilaterais de desenvolvimento se alinharam em torno de uma agenda comum para poderem se tornar melhores, maiores e mais eficazes para enfrentar esses desafios, considerando especialmente os países de baixa renda e os países de baixa renda endividados”, destacou.
O ministro ressaltou que o impacto das mudanças climáticas sobre os países mais pobres é um dos temas mais urgentes e alertou que o Brasil trabalhou intensamente para que esses países tenham acesso a instrumentos financeiros capazes de ajudá-los a enfrentar a crise climática sem comprometer seu desenvolvimento econômico. “Agora sabemos que as mudanças climáticas impactarão claramente os países mais pobres”, afirmou.
África do Sul
Com a presidência do G20 prestes a ser transferida para a África do Sul, Haddad demonstrou confiança no futuro do grupo e destacou o alinhamento entre os dois países. Segundo o ministro, as prioridades sul-africanas estão em sintonia com o que o Brasil deixou de legado ao G20. “Nenhum dos tópicos que são caros ao Brasil ficará de fora dessa agenda e, claro, eles apresentarão novos problemas e soluções, mas acredito que a agenda brasileira será preservada e talvez até aprofundada, como esperado”, explicou.
A proposta brasileira sobre a tributação de grandes fortunas, por exemplo, será incorporada pelos sul-africanos. “A presidência de um país diferente não mudará a implementação dessa medida. Estamos tratando há anos dos pilares um e dois [da OCDE], e se quisermos respostas mais eficazes para os problemas globais, é crucial acelerar a implementação, como defendido por vários países”, disse.
Fonte: Comunicação | Ministério da Fazenda