Presidente explicou que dívida atual, em torno de US$ 800 bilhões, impede que nações tenham acesso ao crédito de que necessitam para realizar projetos em infraestrutura e em outras áreas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou, nesta terça-feira (22/8), durante o programa Conversa com o Presidente, a ideia de que a dívida dos países africanos possa ser renegociada, de modo que as nações do continente tenham mais chance de se desenvolver e gerar empregos que permitam o crescimento econômico no continente.
“Tenho conversado com os presidentes e eles dizem o seguinte: ‘Temos uma carência muito grande porque todos os países estão muito endividados’. É uma dívida de quase 800 bilhões de dólares em todo o continente africano e por conta de estarem endividados eles não podem tomar dinheiro emprestado para fazer as coisas que eles precisam”, disse Lula. O programa foi transmitido diretamente de Joanesburgo, onde ele participa do encontro do BRICS.
Para o líder brasileiro, torna-se necessário que os países mais ricos adotem uma nova postura em relação a essa dívida para que o ciclo que impede novos investimentos na África seja interrompido.
“Essa é uma discussão que acho que a gente tem que fazer em algum momento, em alguma instância, de que é preciso a gente dar um paradeiro a essa dívida e transformar numa coisa de investimento para os países poderem sair dessa encalacrada. É preciso que o mundo rico compreenda a necessidade de a gente garantir aos países mais pobres a oportunidade que ainda não tiveram”, defendeu o líder brasileiro.
COLONIALISMO – Indagado sobre sua relação com a África, Lula disse que seu sentimento é de várias camadas de respeito. Ele reforçou que tem muita fé no potencial dos países africanos, e reconheceu que o continente vai precisar de amplo apoio em seu processo de desenvolvimento.
“A minha relação com a África tem um pouco de sentimental, tem um pouco de reconhecimento histórico, um pouco de solidariedade. O continente africano é um continente que vai se tornando o continente do futuro. Possivelmente, daqui a algum tempo, lá para 2050, o continente africano vai ser o mais habitado do planeta. A economia vai começar a crescer. Aqui tem tudo por fazer. Precisa de rua, de estrada, de água, de energia elétrica. Tudo precisa. Então, é importante saber que o mundo e os empresários, em algum momento, vão se voltar para cá”.
Em uma análise histórica, o presidente lembrou que o processo de colonização que muitos países africanos atravessaram gerou questões que perduram até hoje. “A maioria dos países da África foi colonizado e a grande maioria conseguiu a independência a partir dos anos 1960. Portanto, é uma coisa nova. O que é mais grave é que muitos países eram autossuficientes na produção de alimentos. Depois da colonização, ficaram dependentes do colonizador e hoje muitos países recebem alimentos dos países que foram os colonizadores. Então, eles estão numa situação pior do que antes da colonização do ponto de vista da comida”.
GHANDI E MANDELA – Ao fim do programa, Lula ressaltou o exemplo de luta de duas das mais importantes figuras políticas do século passado, cujas vidas estão ligadas à África do Sul: Mahatma Ghandi e Nelson Mandela. “A África tem 54 países e cada um desses países têm grandes heróis. A história do Ghandi começa exatamente aqui na África do Sul e a África do Sul conseguiu ter o Mandela, que é o exemplo mais próximo da minha geração”, lembrou Lula.
O presidente afirmou que Mandela, com quem teve vários encontros, continua sendo o personagem político mais marcante que já conheceu. “Tive o prazer de conhecê-lo antes e depois de ele ser governante. O Mandela era uma figura que era o resultado de uma luta mundial. O mundo inteiro começou a se colocar contra o Apartheid e, de repente, a figura que aparecia era a figura do Mandela, que parecia um homem de oito metros de altura de tanta competência, de tanta generosidade e de fala tão suave quando ele falava com seu povo”, definiu.
“Toda vez que encontrava o Mandela eu via nele a figura política mais forte que conheci. Um homem que passou 27 anos preso, que sai da cadeia sem ódio, que coloca vários brancos no seu governo, cada ministro negro tinha um subministro branco, para mostrar que veio para construir a paz e conseguiu construir”, recordou Lula.
Já sobre Ghandi, o líder brasileiro frisou a lição de não violência deixada por ele como um recado à humanidade, de que existem outros caminhos mais eficazes do que armas e bombas para a solução de conflitos.
“O Gandhi foi o primeiro livro que li na vida. Uma história que causa inveja a todo ser humano. Ou seja, se dedicar à independência de seu país, a uma luta daquela sem violência é uma coisa muito forte. O gesto dele, que poderia ser visto como covardia por alguns, para mim, era um gesto mais revolucionário do que se ele estivesse com uma arma na mão. Ele provou que a não violência pode derrubar um império. Se o ser humano acompanhasse a vida dessas pessoas, eu acho que a gente aprenderia a ser mais justo, mais democrático, mais calmo e mais solidário. É esse mundo que a gente sonha construir”, encerrou Lula.
Fonte: Comunicação / Palácio do Planalto