Objetivo do fórum de engajamento empresarial é assegurar mais tempo para a análise das recomendações propostas pelo setor privado, antes do encontro de líderes do G20, agendado para novembro.
O fórum oficial de diálogo entre o G20 e a comunidade empresarial global — o Business 20 (B20) — entregou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira, 28 de agosto, uma proposta de priorização dos temas setoriais orientados à elaboração de políticas públicas, nascidas no contexto das decisões do G20. O ato ocorreu em Brasília (DF), no Palácio do Planalto.
É a primeira vez que o B20 entrega, antecipadamente, propostas do setor privado ao G20. Em 2024, o grupo econômico mundial é liderado pelo governo brasileiro. Já o fórum de engajamento empresarial é coordenado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). As propostas entregues ao presidente Lula abordam temas como finanças e infraestrutura; transição energética e clima; sistemas alimentares sustentáveis e agricultura; comércio e investimento; mulheres, diversidade e inclusão; emprego e educação; transformação digital; e integridade e conformidade.
O presidente agradeceu a apresentação, em particular porque o diálogo se dá no momento em que o Brasil “vive um momento muito especial”. Lula mencionou a aprovação da reforma tributária e argumentou que o Brasil tem chance de “virar a chave” e se tornar um país desenvolvido.
O intuito do B20 é assegurar mais tempo para a análise das 24 recomendações listadas pelo setor privado, antes da reunião final do G20 marcada para novembro. O documento, conhecido como communiqué, foi entregue por Dan Ioschpe (chair do B20 Brasil) e pelo presidente do Conselho Consultivo do fórum e presidente da CNI, Ricardo Alban.
Ao longo dos últimos meses, as recomendações foram construídas pelas sete forças-tarefas temáticas e pelo conselho de ação do B20 Brasil, que contam com mais de mil membros, representantes de mais de 40 países. Para Dan Ioschpe, a entrega das recomendações fortalece a participação do fórum empresarial durante a presidência brasileira do G20, ao disseminar as propostas elaboradas e contribuir para promover diálogo e formular políticas públicas.
Para Lula, o país ocupa uma posição de destaque no processo da transição energética. “Temos tudo o que é preciso, só precisamos escolher o modelo de país que a gente quer ser”, ressaltou. O presidente, pontuando parte das recomendações do documento, se referiu aos desafios da inteligência artificial, particularmente em relação aos impactos para o emprego. “Depende exclusivamente de nós tomar as decisões corretas”.
O ministro Rui Costa (Casa Civil) asseverou a importância do financiamento à transição energética e ao aumento da produtividade agrícola. Por sua vez, o ministro Fernando Haddad (Fazenda), fez referência à regulamentação do mercado de carbono pelo Congresso brasileiro e à projeção de desembolso de R$ 32,1 bilhões do Fundo Clima até 2026. Ambos fizeram alusão à recomposição dos investimentos em educação no Brasil, recolocando a qualidade do ensino básico, técnico e integral no centro do debate. “Queremos ter 3,6 milhões de pessoas a mais estudando em tempo integral: um salto de qualidade para o país”, contou Lula.
EIXOS PRIORITÁRIOS — Segundo Dan Ioschpe, o trabalho do B20 Brasil foi orientado por cinco pilares estratégicos que estão conectados às três grandes prioridades do G20. A partir disso, foi possível “elaborar as recomendações necessárias para avançarmos em temas relevantes, além de propor soluções para grandes desafios globais, como a transição energética e o processo de descarbonização, a transformação digital, o combate à fome, pobreza e as desigualdades, entre outros”, afirmou.
O presidente da CNI sublinhou a importância do protagonismo da indústria brasileira nas discussões em 2024. Alban destacou um dos pilares do legado da gestão atual, com recomendações específicas para o setor privado brasileiro. “Estamos convencidos de que as recomendações do B20 Brasil poderão contribuir com um novo ciclo de crescimento do país. A expectativa é que as propostas sejam colocadas em prática. Por isso, o B20 priorizou sugestões de alto impacto e que possam de fato ser executadas”, argumentou.
As 24 recomendações do B20 Brasil serão disponibilizadas, na íntegra, no site oficial do fórum: b20brasil.org. As propostas serão debatidas durante o B20 Summit Brasil, nos dias 24 e 25 de outubro, em São Paulo (SP). A expectativa de público é de mais de mil pessoas, entre convidados brasileiros e de países-membros do G20. As inscrições para o evento estão abertas e são limitadas. As pessoas interessadas podem se inscrever neste link.
GRUPO DE ENGAJAMENTO — A estrutura do B20 Brasil é composta, além do chair Dan Ioschpe, pela sherpa Constanza Negri e pelos CEOs brasileiros que lideram as forças-tarefas: de Transição Energética e Clima, Ricardo Mussa (Raízen); de Comércio e Investimento, Francisco Gomes Neto (Embraer); de Sistemas Alimentares Sustentáveis e Agricultura, Gilberto Tomazoni (JBS); do conselho de ação de Mulheres, Diversidade e Inclusão, Paula Bellizia (Ebanx); de Finanças e Infraestrutura, Luciana Ribeiro (eB, Capital); de Emprego e Educação, Walter Schalka (Suzano); de Transformação Digital, Fernando de Rizzo (Tupy); e de Integridade e Compliance, Claudia Sender.
Em seus comentários, Paula Bellizia, vice-presidenta da Ebanx, apontou o aspecto da representatividade das mulheres (e outros grupos ainda pouco representados). Marcela Rocha, diretora de assuntos corporativos da JBS, frisou a relevância do desenvolvimento e do financiamento para o aumento da produtividade agrícola — em especial para o pequeno produtor, responsável por 30% da produção de alimentos no mundo.
O B20 Brasil ainda conta com cerca de 1,2 mil membros e dois conselhos consultivos, um nacional e um internacional. Presidido por Alban, o conselho nacional tem 15 líderes empresariais brasileiros de diferentes setores, que auxiliam a liderança do B20 no aconselhamento estratégico e defesa junto a autoridades.
O fórum empresarial é um dos 13 grupos de engajamento sociais do G20. O objetivo é produzir, debater, consolidar e apresentar recomendações aos líderes do G20, influenciando temas como o combate à fome, às desigualdades sociais, a transição energética e a transformação digital.
Em 2024, além dos 19 países-membros (África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia) e dois órgãos regionais (União Africana e a União Europeia), a presidência brasileira convidou oito países para participar do debate: Portugal, Noruega, Singapura, Espanha, Nigéria, Egito, Angola e Emirados Árabes Unidos.
G20 E A ECONOMIA MUNDIAL — Nas últimas duas décadas, o G20 desempenhou um papel central na coordenação de respostas a crises globais, como a estabilização dos mercados financeiros e o lançamento de um estímulo econômico global para enfrentar a crise financeira de 2008. Além disso, assumiu a liderança na luta global contra a pandemia, com um estímulo fiscal de mais de US$ 5 trilhões para minimizar as perdas de emprego e renda resultantes da pandemia de coronavírus.
Os membros do G20 representaram 88,2% do PIB mundial e mais de 75% do comércio internacional de bens e de serviços em 2022, englobando 78,6% da população mundial. O grupo também exerce forte influência no setor industrial brasileiro: no comércio de bens industriais, em 2023, o G20 representou 71,8% das exportações brasileiras (US$ 127,3 bi) e 85,8% das importações (US$ 187,4 bi) de bens da indústria de transformação.
Comunicação | Palácio do Planalto