Mais atenção e responsabilidade ao falar sobre o tema, minimizar o preconceito e criação de políticas públicas voltadas para a saúde mental da população foram alguns dos principais assuntos discutidos no ciclo de palestras do Setembro Amarelo, evento promovido pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) e que aconteceu nesta terça-feira (13/09), em Florianópolis.
Pais, familiares, comunidade escolar e profissionais da área da saúde que trabalham com jovens ouviram as falas de especialistas da psiquiatria, pediatria e psicologia. Os palestrantes trataram sobre a saúde mental com o foco na juventude, tendo em vista tópicos como o uso e exagerado de redes sociais e o consumo de substâncias psicoativas.
No começo das atividades, o Subprocurador-Geral de Justiça para Assuntos Jurídicos, Fábio de Souza Trajano, relembrou que a campanha do Setembro Amarelo – que neste ano está em sua sétima edição – já é tradição do MPSC, sempre fomentando o debate sobre o assunto. “Todos nós, em algum momento de nossas vidas, vamos passar ou vamos ter alguém muito próximo da gente com episódios de depressão. E para que a pessoa se recupere, é muito importante compreender, entender e tratar com muita espontaneidade e naturalidade, buscar ajuda médica e psicológica. Assim, esse evento é de fundamental importância para a preservação da saúde e qualidade de vida de todas as pessoas”, disse Trajano.
O Subprocurador-Geral de Justiça para Assuntos Institucionais do MPSC, Alexandre Estefani, celebrou a pluralidade do debate. “Quando o MP recebe outras instituições, profissionais de outras áreas, é uma alegria enorme porque a gente sabe que está contribuindo e recebendo contribuições para que juntos possamos alcançar soluções”, disse. Estefani ainda acrescentou que a sociedade “avançou muito nos últimos anos ao falar abertamente sobre o tema, mas ainda há muito por melhorar, tendo em vista o número elevado de suicídios, especialmente entre os jovens”, completou.
Romper com o estigma sobre o assunto da saúde mental foi o ponto destacado pelo Coordenador do Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude e Educação (CIJE), João Luiz de Carvalho Botega. O Promotor de Justiça disse que o Setembro Amarelo é “um momento necessário, de sensibilização e mobilização em torno desse tema tão importante para a sociedade em geral, mas especialmente para o público infanto-juvenil, que é ainda mais suscetível a esse tipo de ocorrências. Temos um grande desafio de levar informação de forma orientada, guiada e pedagógica para que esse tema entre em pauta no nosso dia nas famílias”, apontou.
Na mesma direção, o Coordenador do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos e do Terceiro Setor (CDH), Douglas Roberto Martins, falou que “conversar sobre saúde mental e trazer informação de qualidade permite conhecer os transtornos mentais e saber como reagir e ajudar para evitar situações mais trágicas”, disse o Promotor de Justiça.
Presidente da Associação Catarinense de Psiquiatria (ACP) – instituição que promove o evento em parceria com o MPSC, a médica psiquiatra Deisy Mendes Porto também falou na abertura da programação. A especialista alertou para os cuidados ao tratar do assunto. “Falar de saúde mental pode parecer batido. Nas redes sociais parece que já se falou tudo. Mas não é falar de saúde mental de qualquer jeito, é preciso falar de saúde mental com responsabilidade, principalmente quando tratamos de suicídio”, comentou a especialista.
Durante o evento foi lançado o Programa Saúde Mental em Rede. Um programa que objetiva fortalecer a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) em Santa Catarina, especialmente em um momento no qual os serviços de atenção à saúde mental se tornaram ainda mais requisitados, em função das consequências enfrentadas no período da pandemia. O programa busca reforçar a política pública de saúde mental e garantir que esses atendimentos aconteçam em momentos oportunos e sejam eficientes.
Estratégias, alertas e sinais
O ciclo de palestras foi iniciado com exposição do médico psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, que é criador e coordenador nacional da Campanha Setembro Amarelo e presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Com a palestra “transtornos mentais, abuso de substâncias e suicídio: o que precisa ser dito”, ele chamou atenção para a responsabilidade ao se falar publicamente sobre o assunto da saúde mental. “A boa vontade das pessoas em querer ajudar é ótima. Mas isso se trata de uma emergência médica. Nós precisamos que todos ajudem, mas essa é uma questão médica grave. As pessoas morrem”, disse. O especialista também defendeu a criação de políticas públicas robustas voltadas para a saúde mental. “Enquanto não mudar o sistema de saúde pública, não vão diminuir os números de suicídio”, comentou o médico psiquiatra, indicando que no Brasil, oficialmente há 38 suicídios por dia, em média. Veja a palestra aqui.
A médica psiquiatra Deisy Mendes Porto abordou o tema “Mais que um abraço: o que fazer quando alguém fala em suicídio”. “Precisamos falar de suicídio porque o assunto tem alta relação com transtornos mentais. Em muitas pessoas não procuram ajuda por preconceito, medo ou vergonha. O preconceito dificulta o tratamento”, disse a médica psiquiatra Deisy Mendes Porto.
A psiquiatra destacou que crianças e jovens apontam sinais de formas diferentes por meio de comentários e comportamentos. “Às vezes deixam de se arrumar, de lavar o cabelo, mudam o comportamento escolar, a automutilação pode ser um sinal também”, disse. Salientou ainda, que vale observar as mensagens e as fotos postadas nas redes sociais. “Há estudos que mostram que o tipo de cores nas fotos muda para preto e branco, por exemplo. Escrevem nas postagens de forma diferente”, falou. Veja a palestra aqui.
A psicóloga Jessica Souza Silva trouxe para o evento uma “reflexão sobre prevenção do suicídio, redes sociais e bem-estar digital”. “Estudos mostram que muitos jovens não têm muita divisão entre vida digital e vida real, por isso alguns fatores protetivos são importantes serem intensificados como: relações significativas, crenças culturais que promovam autopreservação e comunicação aberta com família, escola e comunidade”, explicou Jessica. “Quero deixar para vocês é a reflexão sobre o que podemos fazer na nossa vida com a tecnologia ou sem ela para promover a saúde mental”. Veja a palestra aqui.
Médica pediatra e psicóloga, Catarina Costa Marques ministrou a palestra “saúde mental na adolescência: sinais de alerta”. Catarina comentou que um a cada seis adolescentes apresenta algum tipo de transtorno mental e listou os sinais comuns para os problemas mais recorrentes aos adolescentes: ansiedade, dependência tecnológica, depressão e autolesão sem intenção suicida.
A especialista ainda destacou que pais, familiares e professores estejam atentos a mudanças no comportamento dos adolescentes, o que pode indicar algum transtorno mental. “Um adolescente que fica trancado num quarto é normal? Mas e se ele ficar o fim de semana inteiro trancado, sem comer com a família, será que é normal? Isso pode ser um sinal de adoecimento psíquico. É importante ficar atento aos parâmetros de normalidade para a gente poder saber quando nós devemos nos preocupar e pedir ajuda”, pontua Catarina, acrescentando os prejuízos causados pela pandemia na saúde mental dos adolescentes. “Na pandemia, os adolescentes que deveriam estar no grupo ficaram em casa e essa etapa de interação, de buscar a convivência com o grupo, ficou faltando. O que estamos vendo agora são adolescentes com dificuldade de socializar, não sabem fazer amigos, têm ansiedade social, fobia escolar, muitos transtornos de ansiedade”, observa. Veja a palestra aqui.
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Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social