O procurador-geral da República, Augusto Aras, esteve em Tabatinga (AM), neste domingo, 19. Ele participou de reuniões para tratar dos desdobramentos do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. A comitiva com representantes da Administração Superior do MPF se reuniu com lideranças indígenas, procuradores da República lotados no estado, além de autoridades estaduais e federais com atuação na região e responsáveis pela investigação do caso.
Aras e outros integrantes do MPF se deslocaram até o Amazonas para, além de manifestar apoio e assegurar a estrutura necessária para a continuidade do trabalho de apuração dos crimes, discutir medidas voltadas para a reestruturação do MP na região. De acordo com o PGR, a implementação de 30 novos ofícios do MPF com temática socioambiental na Amazônia anunciada em maio é uma das providências em curso para reforçar o trabalho do órgão na região. Também houve conversas sobre a necessidade de articulação permanente entre as instituições para a adoção de providências que assegurem proteção às populações tradicionais e combate à macrocriminalidade na região.
Durante a reunião com indígenas, as lideranças reforçaram ao PGR a necessidade de o Estado cumprir seu papel de fiscalização e combate ao crime naquela área. De acordo com eles, a vigilância dos territórios tem sido feita em boa parte pelos próprios indígenas, o que os coloca em risco permanente. O PGR se comprometeu a realizar a interlocução com o Ministério da Defesa e discutir a possibilidade da edição de decreto que autorize Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para o Vale do Javari, ainda que de forma temporária, de modo a reforçar a presença das forças policiais no local.
Aras também participou de reuniões com representantes do MPF, do MP Estadual, do Exército, da Marinha, da Funai e de forças policiais. Após os encontros, em declaração aos jornalistas, ele destacou que todos os agentes públicos lembraram a gravidade da situação na área. Ele salientou a pronta resposta dos órgãos estatais para desvendar o crime, incluindo as três prisões e a localização dos corpos. No entanto, ressaltou que a investigação deve continuar, inclusive para avaliar se existem conexões do caso com organizações criminosas e também para definir se a atribuição para a ação penal é do MP Estadual ou Federal. “Deixamos claro o nosso apoio e nosso compromisso em contribuir para que o caso seja totalmente esclarecido e todos os envolvidos sejam responsabilizados”, pontuou Aras.
Medidas implementadas – A reestruturação do MPF na Região Amazônica passa pela ampliação do número de ofícios e, como consequência, de procuradores destinados ao trabalho tanto preventivo quanto repressivo. O PGR explicou que o MPF está implementando a reestruturação, com alterações na distribuição geográfica da força de trabalho. “Destinamos 30 novos ofícios para a região. Desse total, dez serão exclusivos de atribuição regional. Isso significa mais procuradores da República para ajudar colegas lotados em cidades como Tabatinga, por exemplo”, salientou.
Comitiva – Além do procurador-geral, a comitiva do MPF em Tabatinga teve a presença dos coordenadores das Câmaras de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais (6CCR) e Criminal (2CCR), os subprocuradores-gerais Eliana Torelly e Carlos Frederico, respectivamente. Também integraram o grupo o procurador federal dos Direitos do Cidadão, Carlos Alberto Vilhena, e o chefe do Gabinete do PGR, Darlan Dias.
Além de reiterar às lideranças indígenas e às autoridades o compromisso de trabalhar de forma coordenada com os membros que atuam em primeira instância, tanto no caso de Bruno e Dom quanto em outras investigações, os membros da Administração Superior do MPF reforçaram a importância de se buscar soluções compartilhadas e de caráter estruturante para a região, uma vez que os problemas não se encerram com a elucidação do crime, que nos últimos 15 dias teve repercussão mundial e mobilizou as instituições brasileiras. O diálogo permanente com outros órgãos públicos e instituições foi mais uma medida apontada como essencial. “A nossa gestão prioriza o diálogo. Ações judiciais se prolongam no tempo, mas com diálogo podemos ter resultados mais efetivos e rápidos”, disse Aras.