As retiradas em cadernetas de poupança superaram os depósitos em R$ 15,4 bilhões no mês de março deste ano, segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta segunda-feira (25).
Esse é o maior volume de resgate para o mês de março na série histórica do BC, iniciada em janeiro de 1995. O recorde negativo anterior foi registrado em 2015, quando houve saque líquido de R$ 11,44 bilhões.
De acordo com a autoridade monetária, em março, as saídas de recursos na modalidade somaram R$ 327,109 bilhões, enquanto os depósitos totalizaram R$ 311,753 bilhões.
Já é o terceiro mês consecutivo com captação negativa em 2022. Em janeiro, foi registrado saque líquido de R$ 19,67 bilhões, o maior da história. Em fevereiro, a retirada líquida foi de R$ 5,35 bilhões. Com isso, os saques superaram os depósitos em R$ 40,37 bilhões no primeiro trimestre do ano. Em relação aos dados parciais de abril, houve saída líquida de R$ 5,92 bilhões até o dia 14.
Com a retirada de recursos no mês, o saldo da poupança (ou seja, o volume total aplicado) registrou queda de R$ 10 bilhões, passando de R$ 1,016 trilhão em fevereiro para R$ 1,006 trilhão em março. No período, os rendimentos creditados nas contas dos poupadores somaram R$ 5,32 bilhões.
A divulgação do relatório de poupança referente ao mês de março estava prevista para o dia 6 de abril, mas foi adiada pelo BC devido à greve dos servidores, que durou de 1º de abril até a última terça-feira (19), quando foi suspensa por duas semanas.
Em março de 2021, a modalidade também registrou resultado negativo (R$ 3,52 bilhões). Já em 2020, a entrada de recursos no mês foi maior que a saída em R$ 12,17 bilhões.
O fluxo de recursos na poupança passou a acumular retiradas significativas em 2021, quando o poder de compra do brasileiro voltou a ser assombrado por uma inflação de dois dígitos.
Em março, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), subiu 1,62% no mês e chegou a 11,30% no acumulado de 12 meses. Foi o avanço mais intenso da inflação para março em 28 anos.
Além do impacto da inflação na renda dos consumidores, a poupança perde competitividade frente a outros tipos de investimentos com o alto nível da taxa básica de juros (Selic), que atualmente está em 11,75% ao ano.
Para Mauro Rochlin, professor de Economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), esse é o principal fator para compreender a retirada de recursos da poupança.
“A gente fica tentado a dizer, por exemplo, uma queda no salário médio real ou um nível de desemprego ainda muito alto como motivos para explicar essa fuga da poupança, mas acho que a perda relativa de rentabilidade em relação a outras aplicações é o que melhor explica esse movimento”, disse.
“Com a Selic a 11,75% ao ano, a poupança se torna relativamente desinteressante. Então, aqueles poupadores com um pouco mais de recursos ou até mesmo um pouco mais de acesso a outros produtos financeiros acharam que o ganho de migrar para outro investimento é compensador”, continuou.
O BC já sinalizou que o agressivo aperto monetário ainda não chegou ao fim. Nos dias 3 e 4 de maio, o Copom (Comitê de Política Monetária) voltará a se reunir e deve indicar nova elevação de um ponto percentual, com a Selic chegando ao patamar de 12,75% ao ano.
Diante desse cenário, Rochlin prevê que o fluxo de retiradas continue nos próximos meses. “Como a Selic deve ter mais uma subida agora, acho que essa tendência pode se acentuar”, afirmou.
Atualmente, a caderneta de poupança rende 0,50% ao mês (ou 6,17% ao ano), mais a TR (taxa referencial). O indicador é calculado pelo BC com base nas taxas de juros das Letras do Tesouro Nacional e tem flutuação diária. A regra da poupança mudou em dezembro do ano passado com a elevação da Selic acima de 8,5% ao ano.
Em meio à escalada da Selic, a TR, que ficou nula de setembro de 2017 até o fim do ano passado, também sobe. Quando a taxa de juros está menor ou igual a 8,5% ao ano, o investimento é limitado a 70% da taxa, acrescida da TR.