A resistência das bactérias aos antibióticos é um grande desafio para a saúde pública no mundo. Uma dessas bactérias é Staphylococcus aureus resistentes à Meticilina, conhecida pela sigla MRSA. Apesar de serem organismos comensais, ou seja, que interagem com o ser humano sem causar doença, em algumas situações, o desequilíbrio da relação dessa bactéria com o hospedeiro pode ser prejudicial à saúde. O estudo conduzido por Fabienne Antunes Ferreira, microbiologista e pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), busca entender essas interações entre o organismo humano e esses patógenos, mais especificamente no estado de Santa Catarina.
O objetivo do estudo é entender por que em Santa Catarina a incidência dessas bactérias resistentes a antibióticos parece ser menor em comparação com outros estados do país. No Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Paraná, cerca de 30 a 60% de Staphylococcus aureus são MRSA. No entanto, em Santa Catarina, essa taxa reportada foi de 2 a 8%. “Talvez, Santa Catarina possa ser um modelo futuro para inibir o crescimento dessas bactérias, já que aqui é naturalmente inibido de alguma forma”, explica a pesquisadora.
A bactéria Staphylococcus aureus
Staphylococcus aureus são bactérias que colonizam tecidos humanos e de outros animais de sangue quente. Segundo dados de estudos científicos, cerca de 30% da população mundial possui células desses microrganismos em sua cavidade nasal, sem causar danos. Apesar da sua alta incidência assintomática, um desequilíbrio entre a relação dessa bactéria com seu hospedeiro pode levar a infecções na corrente sanguínea, pele, coração e outros tecidos. Ainda não existem estudos concretos sobre quais fatores causam esse desequilíbrio, no entanto, sabe-se que Staphylococcus aureus tem demonstrado grande adaptação ao organismo humano e resistência ao tratamento com antibióticos.
O projeto de pesquisa
Esse estudo se configura como um projeto de ciência básica, isto é, apesar de não trazer resultados imediatos para a população, serve de base para pesquisas mais aplicadas. “O objetivo aqui é realmente dar base para entender a Biologia do microrganismo e, a partir disso, criar políticas públicas para gerar uma intervenção direta”, observa Fabienne. Foram realizadas pesquisas comparando MRSA de Santa Catarina e de outros estados, buscando entender por que aqui a incidência é menor. Também foram feitos estudos sobre o genoma e a capacidade de adaptação dessa bactéria e, além disso, foi analisada a sua colonização na população idosa.
Uma das dificuldades relatadas pela pesquisadora é a falta de reconhecimento da importância desse tipo de projeto por parte das instituições de financiamento de pesquisa. “Eu tenho submetido esse projeto para agências de fomento, para o CNPq, para Fapesc, para Serrapilheira.” conta Fabienne. Segundo a microbiologista, os recursos vão prioritariamente para pesquisas que gerem um produto imediato.
Fabienne acredita que apesar de não ser uma pesquisa aplicada, o projeto precisa de visibilidade. Conforme a pesquisadora, entendendo a biologia do MRSA será possível descobrir a causa da incidência em Santa Catarina ser consideravelmente menor que no resto do Brasil, auxiliar a abordagem terapêutica em outros estados, além de ter impacto nas políticas públicas para o controle de infecções por Staphylococcus aureus. “O objetivo maior do projeto é salvar vidas. É a gente entender essa bactéria, como ela interage com o ser humano, para evitar que ela cause doença”, conclui.
Fonte: Departamento de Comunicação UFSC