O temor de que as sanções impostas à Rússia em função da guerra na Ucrânia comprometeriam a importação de fertilizantes pelo Brasil parece não ter se materializado. Ao menos em um primeiro momento. Dados de importação marítima obtidos pela agência Reuters indicam que ao menos 24 navios cargueiros contendo fertilizante embarcaram rumo ao território brasileiro e devem chegar aqui nas próximas semanas.
As embarcações comportam quase 678 mil toneladas de fertilizantes, conforme dados compilados pela empresa de consultoria Agrinvest Commodities. A carga, se entregue devidamente, tem potencial para garantir aos produtores brasileiros uma safra normal de grãos, marcada para começar no último trimestre de 2022.
Dos 24 navios que rumam ao Brasil, 11 deixaram os portos russos de São Petesburgo e Murmansk depois do dia 24 de fevereiro, quando começou o conflito. Em sua maioria, eles trazem cloreto de potássio, usado principalmente em plantações de milho e soja.
Os dados indicam que o último cargueiro a embarcar foi o Pebble Beach, que carrega 35 mil toneladas de cloreto de potássio e zarpou no dia 4 de abril rumo ao porto de Vitória, no Espírito Santo.
De acordo com um executivo do setor, filiais estrangeiras de empresas russas continuam a receber pedidos normalmente, e o pagamento é possível através de bancos que não foram afetados pelas sanções ocidentais.
As três maiores fornecedoras de cloreto de potássio para o Brasil no primeiro trimestre deste ano foram a canadense Canpotex, a Belarusian Potash Company, de Belarus, e a russa UralKali, segundo o Siacesp (Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas do Estado de São Paulo). Já as principais importadoras são a norte-americana Mosaic, a norueguesa Yara e a brasileira Fertipar.
Por que isso importa?
Desde que colocou suas tropas na Ucrânia, a Rússia virou alvo de todo tipo de sanção, sofrendo um contra-ataque que tornou o país um pária global. O impacto das medidas também foi sentido no Brasil. Levantamento da gestora de dados comerciais Dun & Bradstreet aponta que cerca de 2,4 mil empresas sediadas no Brasil dependem de fornecedores russos, segundo a revista Exame.
O conflito também ocorre no momento em que a Rússia anuncia crescimento significativo dos negócios com o Brasil. “De janeiro a novembro de 2021, o comércio russo-brasileiro aumentou 81% em comparação ao mesmo período do ano anterior e somou US$ 6,4 bilhões, quase atingindo um máximo histórico”, disse o vice-ministro de Desenvolvimento Econômico russo Vladimir Ilitchov, de acordo com o site informativo Russia Beyond BR, braço da agência de notícias estatal russa RIA Novosti
Ilitchov explicou que as exportações russas para o Brasil cresceram mais de 150%, atingindo 4,4 bilhões de dólares, sobretudo devido ao aumento da oferta de produtos de petróleo, fertilizantes, carvão e metais. “As importações do Brasil, por sua vez, cresceram 8%, para 2 bilhões de dólares, principalmente graças ao aumento das compras de carne e subprodutos, além de aves, soja e café”, disse ele, de acordo com a revista russa Financial One.
Em fevereiro, o Encontro Empresarial Brasil-Rússia debateu o incremento das relações bilaterais e oportunidades de investimentos entre as duas nações. O presidente Jair Bolsonaro participou do fórum. “Há um grande interesse da Rússia no Brasil e do Brasil também na Rússia”, disse o líder brasileiro, segundo a Agência Brasil.
O “grande interesse” diz respeito sobretudo a fertilizantes. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Brasil importa cerca de 80% de todo o fertilizante usado na produção agrícola nacional. A dependência externa é tamanha que, no início de abril, o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, pediu ao secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, uma licença especial para que o Brasil comprasse fertilizantes de países que estão sob sanções em decorrência da guerra. Rússia incluída.
Por A Referência Noticias Internacionais